Muitos desenvolvedores diriam que uma linguagem dinâmica (como JS) não possui tipos. Vamos ver o que a especificação ES5.1 (http://www.ecma-international.org/ecma-262/5.1/) tem a dizer sobre este tópico:
Algorítimos dentro desta especificação manipulam valores cada um dos quais possui um tipo associado. Os tipos de valores possíveis são exatamente os definidos nessa cláusula. Tipos são ainda sub-classificados na ECMAScript como tipos de linguagem e tipos de especificação.
A tipagem da linguagem ECMAScript corresponde à valores que são diretamente manipulados por um programador ECMAScript usando a linguagem ECMAScript. Os tipos existentes da linguagem ECMAScript são Undefined, Null, Boolean, String, Number, e Object.
Agora, se você é um fã de linguagens com tipagem forte (tipagem estática), você pode opôr-se a esse uso da palavra "tipo." Nessas linguagens, "tipo" significa muito mais do que ele faz aqui no JS.
Algumas pessoas dizem que JS não deveria possuir "tipos," antes estes deveriam ser chamados de "tags" ou talvez "subtipos".
Bah! Nós iremos usar essa grosseira definição (a mesma que parece dirigir a escrita da especificação): um tipo é intrínseco, construído com um conjunto de características que unicamente identifica o comportamento de um valor em particular e distingue-o de outros valores, tanto para o motor (engine) quanto para o desenvolvedor.
Em outras palavras, se tanto o motor (engine) quanto o desenvolvedor tratam o valor 42
(o número) diferentemente do que eles tratam o valor "42"
(a string), então esses dois valores possuem tipos diferentes -- number
e string
, respectivamente. Quando você usa 42
, você pretende fazer algo numérico, como matemática. Mas quando você usa "42"
, você está pretendendo fazer alguma coisa com texto/strings, como saída (output) para a página, etc. Esses dois valores possuem tipagem diferente.
Isso não é uma definição perfeita. Mas é bom o suficiente para essa discussão. E é consistente com a maneira que JS descreve-se.
Além dos desacordos da definição acadêmica, por que é importante se JavaScript possui tipos ou não?
Ter uma compreensão adequada de cada tipo e seu comportamento intrínsico é absolutamente essencial para entender como converter valores corretamente e precisamente para diferentes tipos (veja Coerção (Coercion), Capítulo 4). Quase todos programas escritos em JS precisarão lidar com coerção de valores em algum tipo de formulário, assim é importante você fazê-los com responsabilidade e confiança.
Se você possui o número (number)
com valor 42
, mas você deseja tratá-lo como uma string
, tal que a saída dê-se como um caractere "2"
na posição 1
, você obviamente deve primeiro converter (coerce) o valor de número (number)
para string
.
Isso parece bastante simples.
Mas exitem muitas maneiras diferentes em que a coerção pode acontecer. Algumas dessas maneiras são explícitas, fáceis de assimilar e confiáveis. Mas se você não for cuidadoso, a coerção (coercion) pode acontecer de formas muito estranhas e surpreendentes.
Confusão na coerção é possivelmente uma das mais profundas frustrações para desenvolvedores JavaScript. Tem sido frequentemente criticada como sendo tão perigosa que pode ser considerada uma falha no design da linguagem, à ser banida e evitada.
Armados com total conhecimento dos tipos do JavaScript, nosso objetivo é demonstrar por que a má reputação da coerção é largamente famosa e um pouco imerecida -- mudando a sua perspectiva, para ver a coerção como uma poderosa utilidade. Mas primeiro, devemos ter uma compreensão melhor sobre valores e tipos.
JavaScript define sete tipos nativos:
null
undefined
boolean
number
string
object
symbol
-- adicionado no ES6!
Nota: Todos esses tipos, exceto object
são chamados "primitivos".
O operador typeof
inspeciona o tipo do valor obtido, e sempre retorna um dos sete valores de string -- surpreendentemente, não há uma correspondência exata de 1-para-1 com os sete tipos nativos que listamos.
typeof undefined === "undefined"; // true (verdadeiro)
typeof true === "boolean"; // true (verdadeiro)
typeof 42 === "number"; // true (verdadeiro)
typeof "42" === "string"; // true (verdadeiro)
typeof { life: 42 } === "object"; // true (verdadeiro)
// adicionado no ES6!
typeof Symbol() === "symbol"; // true (verdadeiro)
Estes seis tipos listados possuem valores do tipo correspondente e retornam uma string com o mesmo nome, como mostrado. Symbol
é um novo tipo de dados introduzido à partir do ES6, e será explicado no Capítulo 3.
Como você pode perceber, eu excluí null
da lista acima. Ele é especial -- especial no sentido que é problemático quando combinado com o operador typeof
:
typeof null === "object"; // true (verdadeiro)
Teria sido legal (e correto!) se retornasse "null"
, mas esse "bug" original no JS tem persistido por aproximadamente duas décadas, e provavelmente nunca será corrigido porque existe muito conteúdo na web que se baseia nesse comportamente "bugado", e corrigí-lo criaria mais "bugs", e causaria rupturas em uma grade quantidade de softwares web.
Se você deseja testar um valor null
usando seu tipo, precisará de uma condição composta:
var a = null;
(!a && typeof a === "object"); // true (verdadeiro)
null
é o único valor primitivo que pode ser "falso" (também conhecido como "false-like"; veja o Capítulo 4) mas que também retorna "object"
na checagem de typeof
.
Então qual é o sétimo valor de string que typeof
pode retornar?
typeof function a(){ /* .. */ } === "function"; // true (verdadeiro)
É fácil pensar que function (função)
é um tipo nativo de alto nível no JS, especialmente obtendo esse comportamento do operador typeof
. Contudo, se você ler a especificação, verá que atualmente é um "subtipo" de objeto. Especificamente, uma função é referenciada como um "objeto chamável (callable object)" -- um objeto que possui uma propriedade [[Call]]
interna que possibilita ao mesmo ser invocado.
O fato de funções atualmente serem objetos é muito útil. Mais importante, elas podem ter propriedades. Por exemplo:
function a(b,c) {
/* .. */
}
O objeto de função tem uma propriedade length
definido com o número de parâmetros formais com o qual a função foi declarada.
a.length; // 2
Uma vez que você tenha declarado a função com dois parâmetros formalmente nomeados (b
e c
), o "length (tamanho) da função" será 2
.
E quanto aos arrays? Eles são nativos para o JS, então eles são um tipo especial?
typeof [1,2,3] === "object"; // true (verdadeiro)
Não, apenas objetos. É muito apropriado pensar sobre eles também como um "subtipo" de objeto (veja o Capítulo 3), neste caso com as características adicionais de serem numéricamente indexáveis (em oposição aos objetos simples com chaves do tipo string) e manterem uma propriedade .length
automaticamente atualizada.
Em JavaScript, variáveis não possuem tipos -- valores possuem tipos. Variáveis podem conter qualquer valor à qualquer momento.
Outra maneira de pensar sobre tipos do JS é que JS não possui "tipagem forçada (type enforcement)," pois a engine não insiste que uma variável sempre terá valores do mesmo tipo inicial com que ela começou. Uma variável pode, em uma declaração de atribuição, possuir um valor do tipo string
, e no futuro ter um number
, e assim por diante.
O valor 42
possui o tipo number
intrínseco, e seu tipo não pode ser modificado. Um outro valor, como "42"
com o tipo string
, pode ser criado à partir do valor 42
de tipo number
através de um processo chamado coerção (coercion) (veja o Capítulo 4).
Se você usa o typeof
em uma variável, ele não está perguntando "qual o tipo da variável?" como pode parecer, pois variáveis JS não possuem tipos. Pelo contrário, ele está perguntando "qual é o tipo do valor na variável?"
var a = 42;
typeof a; // "number" ("número")
a = true;
typeof a; // "boolean" ("booleano")
O operador typeof
sempre retorna uma string. Assim:
typeof typeof 42; // "string"
O primeiro typeof 42
retorna "number"
, e typeof "number"
é "string"
.
Variáveis que não possuem valores neste momento, atualmente possuem o valor undefined (indefinido)
. Chamar typeof
nestas variáveis retornará "undefined"
:
var a;
typeof a; // "undefined" ("indefinido")
var b = 42;
var c;
// depois
b = c;
typeof b; // "undefined" ("indefinido")
typeof c; // "undefined" ("indefinido")
É tentador para muitos desenvolvedores olharem para a palavra "undefined (indefinido)" e pensar nela como sinônimo para "undeclared (não declarada)." Contudo, em JS, esses dois conceitos são bastante diferentes.
Uma variável "undefined" é aquela que foi declarada no escopo acessível, mas neste momento não possui nenhum outro valor. Por contraste, uma variável "undeclared" é aquela que não foi formalmente declarada no escopo acessível.
Considere:
var a;
a; // undefined (indefinido)
b; // ReferenceError: b is not defined (Erro de Referência: b não está definido)
Uma irritante confusão é a mensagem de erro que os navegadores atribuem para essa condição. Como você pode ver, a mensagem é "b is not defined (b não está definido)," a qual é com certeza muito fácil de confundir com "b is undefined (b é indefinido)." Novamente, "undefined (indefinido)" e "is not defined (não está definido)" são coisas bem diferentes. Seria ótimo se os navegadores retornassem algo como "b is not found (b não foi encontrado)" ou "b is not declared (b não está declarado) ," para reduzir essa confusão!
Há também um comportamento especial associado com typeof
no que se refere às variáveis não declaradas que reforça ainda mais a confusão. Considere:
var a;
typeof a; // "undefined" ("indefinido")
typeof b; // "undefined" ("indefinido"?)
O operador typeof
retorna "undefined"
até para variáveis "undeclared (não declaradas)" (ou "não definidas"). Note que aqui não há erros disparados quando nós executamos typeof b
, apesar de b
ser uma variável "não declarada". Isso é uma questão especial de segurança no comportamento de typeof
.
Similarmente, teria sido ótimo se typeof
usado com uma variável não declarada retornasse "undeclared" ao invés de confundir o resultado com os diferentes tipos de "undefined".
De qualquer forma, esta proteção de segurança é útil quando lidamos com JavaScript no navegador, onde vários arquivos de script podem carregar variáveis no namespace global compartilhado.
Nota: Muitos desenvolvedores acreditam que jamais deverá haver variáveis no namespace global, e que tudo deve estar contido em módulos e namespaces privados/separados. Isto é ótimo em teoria, mas quase impossível na prática; Mesmo assim, é um bom objetivo para se tentar alcançar! Felizmente, o ES6 adicionou suporte de primeira classe para módulos, que eventualmente tornará isso muito mais prático.
Como um exemplo simples, imagine ter um "modo debug (depuração)" em seu programa que é controlado por uma variável global (flag) chamada DEBUG
. Você gostaria de verificar se essa variável foi declarada antes de executar uma tarefa de depuração, como por exemplo, exibir uma mensagem de log no console. A declaração global de nível superior var DEBUG = true
só seria incluída no arquivo "debug.js", o qual você carrega no navegador somente quando estiver em desenvolvimento/teste, mas não em produção.
Entretanto, você deve tomar cuidado com a forma na qual você verifica a variável global DEBUG
no restante do código da sua aplicação, para que você não cause um ReferenceError
(Erro de referência). A proteção de segurança por meio do typeof
é nossa amiga nesse caso.
// oops, isto causaria um erro!
if (DEBUG) {
console.log( "A depuração está começando" );
}
// Esta é uma verificação de existência segura
if (typeof DEBUG !== "undefined") {
console.log( "A depuração está começando" );
}
Este tipo de verificação é útil mesmo se você não estiver lidando com váriaveis definidas pelo usuário (como a DEBUG
). Se você estiver fazendo uma verificação de recursos para integração com uma API, você também pode achar útil verificar sem lançar um erro:
if (typeof atob === "undefined") {
atob = function() { /*..*/ };
}
Nota: Se você estiver definindo um "polyfill" para um recurso que ainda não existe, você provavelmente deseja evitar o uso de var
para fazer a declaração de atob
. Se você declarar var atob
dentro da instrução if
, esta declaração será elevada (veja o livro Escopos & Closures desta série) para o topo do escopo, mesmo se a condição if
não passar (porque a váriavel global atob
já existe!). Em alguns navegadores e para alguns tipos especiais de variáveis construidas globalmente (geralmente chamadas de "host objects (objetos hospedeiros)"), esta declaração duplicada pode gerar erros. Omitindo o var
impede que essa declaração seja elevada.
Outra maneira de fazer essas verificações de variáveis globais sem utilizar a proteção de segurança do typeof
é observar que todas essas variáveis globais são propriedades do objeto global, que no navegador é basicamente o objeto window
. Então, as verificações acima poderiam ter sido feitas (seguramente) com:
if (window.DEBUG) {
// ..
}
if (!window.atob) {
// ..
}
Ao contrário de referenciar variáveis não declaradas, não ocorrerá um ReferenceError
(Erro de referência) se você tentar acessar uma propriedade que não existe em um objeto (mesmo no objeto global window
).
Por outro lado, referenciar manualmente variáveis globais utilizando a referência de window
é algo que alguns desenvolvedores preferem evitar, especialmente se o seu código precisa ser executado em múltiplos ambientes JS (não apenas navegadores, mas do lado do servidor, como node.js, por exemplo), onde o objeto global pode nem sempre ser chamado window
.
Tecnicamente, a proteção de segurança por meio do typeof
é útil mesmo se você não estiver utilizando variáveis globais, embora essas circunstâncias sejam menos comuns, e alguns desenvolvedores podem achar essa abordagem menos aplicável. Imagine uma função de utilidade a qual você deseja que outros copiem e colem em seus programas ou módulos, onde você deseja verificar se o programa em questão contém a definição para uma certa variável (para que você possa usá-la) ou não:
function doSomethingCool() {
var helper =
(typeof FeatureXYZ !== "undefined") ?
FeatureXYZ :
function() { /*.. característica padrão ..*/ };
var val = helper();
// ..
}
doSomethingCool()
testa uma variável chamada FeatureXYZ
e, se econtrar, utiliza ela, mas se não, utiliza sua própria definição. Agora, se alguém incluir em seu programa/módulo esta função, ele verificará com segurança se FeatureXYZ
foi definida ou não:
// uma IIFE (veja a discussão "Expressão de Função Imediatamente Invocada"
// no livro *Escopo & Closures* desta série)
(function(){
function FeatureXYZ() { /*.. minha função XYZ ..*/ }
// incluir `doSomethingCool(..)`
function doSomethingCool() {
var helper =
(typeof FeatureXYZ !== "undefined") ?
FeatureXYZ :
function() { /*.. característica padrão ..*/ };
var val = helper();
// ..
}
doSomethingCool();
})();
Neste caso, FeatureXYZ
não é uma variável global, mas assim mesmo estamos utilizando a proteção de segurança por meio do typeof
para garantir a verificação. E o mais importante, aqui não existe objeto que possamos usar (como fizemos para variáveis globais com window.___
) para fazer a verificação, então o typeof
é muito útil.
Outros desenvolvedores preferem um padrão de projetos chamado "injeção de dependência", em que, ao invés de doSomethingCool()
verificar implicitamente se FeatureXYZ
está definida fora dela, ela precisaria ter a dependência passada explicitamente, como:
function doSomethingCool(FeatureXYZ) {
var helper = FeatureXYZ ||
function() { /*.. característica padrão ..*/ };
var val = helper();
// ..
}
Há muitas opções para projetar essa funcionalidade. Nenhum padrão apresentado aqui é "certo" ou "errado" -- Existem vários prós e contras para cada abordagem. Mas, em geral, é bom que a proteção de segurança do typeof
para tipos não declarados (undeclared) nos dê mais opções.
JavaScript tem sete tipos nativos: null
, undefined
, boolean
, number
, string
, object
, symbol
. Eles podem ser identificados pelo operador typeof
.
Variáveis não possuem tipos, mas os valores sim. Estes tipos definem o comportamento intrínseco dos valores.
Muitos desenvolvedores assumirão que "undefined" e "undeclared" são, grosseiramente, a mesma coisa, mas em JavaScript, elas são bem diferentes. undefined
é um valor que uma variável declarada pode conter. "Undeclared" significa que uma variável nunca foi declarada.
O JavaScript, infelizmente, combina esses dois termos não só nas suas mensagens de erro ("ReferenceError: a is not defined (Erro de referência: a não está definido)"), mas também no valor retornado pelo typeof
, que é "undefined"
para os dois casos.
No entando, a proteção de segurança (evitando um erro) do typeof
quando utilizada em uma variável não declarada, em alguns casos pode ser útil.